Tem roupas que fecham, mas não encaixam.
Que servem, mas não pertencem.
Elas dizem “está tudo certo” com o botão preso e o zíper subido — mas seu corpo grita “não estou confortável aqui”.
Eu já vesti peças assim.
Na pressa. No medo. Na tentativa de agradar.
E sempre existia esse silêncio apertado entre a costura e a pele…
Um desconforto que começava na cintura, mas terminava na alma.
Aprendi que não é porque cabe, que acolhe.
E que o corpo sente antes de a gente conseguir nomear.
O zíper fechado virou metáfora.
Quantas vezes a gente se prende em lugares, conversas e papéis que não nos comportam?
A gente se comprime para caber no ideal do outro.
Se dobra em silêncios.
Suga a barriga nas palavras.
Sorri no automático com medo de parecer demais — ou de parecer pouco.
Até que um dia o incômodo fala mais alto.
E a gente começa a escolher diferente.
Primeiro vem a recusa:
“Não vou mais vestir o que me encolhe.”
Depois, a procura:
Uma peça que abrace. Que respeite. Que acompanhe o que sou hoje — e não quem eu era ou quem esperavam que eu fosse.
É só uma lingerie, talvez.
Ou um top básico.
Mas no fundo… é um voto íntimo de liberdade.
E a cada vez que você escolhe se vestir com conforto e presença, você também se veste de coragem.
Porque, no fim, não é sobre moda.
É sobre parar de se diminuir pra caber.