Você já gastou R$ 45 numa calcinha e sentiu que estava sendo "exagerada"?
Mas gastou os mesmos R$ 45 num hambúrguer meia-boca e nem pensou duas vezes?
Pois é. Isso acontece mais do que a gente imagina — e tem um nome: culpa seletiva.
A gente aprendeu a pensar que investir em algumas coisas é futilidade, enquanto gastar com outras é "necessidade", "conveniência", “recompensa”. Só que muitas vezes, o que a gente chama de “recompensa”, nem faz tão bem assim.
O delivery não vem com autoestima
Gastar com comida rápida, ainda que nem seja tão boa, passa despercebido.
Você teve um dia difícil, está sem tempo, e o clique é rápido.
Chega na porta da sua casa, você come e acabou. Não tem questionamento interno.
Agora, gastar com lingerie?
Ah, aí a cabeça começa:
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"Será que eu preciso mesmo disso?"
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"Mas ninguém vai ver..."
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"Não é melhor guardar esse dinheiro?"
E é aqui que a gente precisa pausar e observar: por que um prazer imediato e passageiro é mais aceito do que algo que vai estar com você por muito mais tempo, no seu corpo, no seu dia a dia, influenciando como você se sente?
A peça íntima não é fútil. É diária. É sobre você.
Lingerie não é luxo. É presença.
Você usa todos os dias. Ela está com você quando ninguém está.
Quando você acorda cansada, quando se arruma para um encontro, quando está na TPM, no trabalho, em casa.
Mas a sociedade (e o marketing antigo) empurrou a ideia de que lingerie só vale a pena quando é para agradar alguém.
Aí, quando você quer comprar uma peça só porque se sentiu bonita nela, a culpa vem de brinde.
Spoiler: essa culpa não é sua. Ela foi colocada aí — e precisa ser desinstalada com urgência.
Quando a gente paga por algo que é pra suprir uma necessidade alheia — tipo um delivery para família, um presente para o namorado, uma conta para dividir — isso é considerado justo.
Mas quando o gasto é seu, com algo que só você vai usar e sentir? Entra o julgamento.
Como se o prazer pessoal precisasse ser sempre justificado. Como se só valesse a pena se fosse “útil” ou “produtivo”.
Só que se sentir bem é produtivo.
Cuidar de si é útil. Investir no que melhora seu dia, mesmo que ninguém veja, é necessário.
Vamos fazer as contas?
Quantas vezes você gastou R$ 30–50 com:
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Um lanche meia-boca
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Um esmalte que descascou em 2 dias
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Uma blusinha que nem combinava com nada
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Um aplicativo de assinatura que você nem lembra de usar
Agora quantas vezes você gastou isso com:
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Uma lingerie que te deixou mais confiante
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Uma calcinha confortável de verdade
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Um top que você usou 20 vezes (inclusive como blusa)?
A primeira lista é esquecível. A segunda acompanha você por muito mais tempo.
No fundo, a culpa não é sobre o valor — é sobre permissão
Comprar uma lingerie boa é quase como dizer para si mesma: "Eu mereço me sentir bem por dentro, antes de tudo."
E é aí que mora o desconforto. Porque a gente aprendeu a colocar esse tipo de merecimento sempre depois dos outros.
Mas deixa eu te lembrar uma coisa: Você pode sim gastar com você sem culpa. Pode se dar presentes. Pode comprar coisas lindas sem precisar de ocasião especial. Pode querer se sentir bem, só porque sim.
Então da próxima vez…
Que bater aquela dúvida na hora de investir em uma lingerie que você amou, se pergunta:
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“Eu gastaria isso num delivery ruim sem piscar?” “Essa peça vai melhorar meus dias?” “Ela vai durar mais que uma pizza fria no fim da noite?”
Se a resposta for sim, compra sem culpa. Porque o prazer rápido vai embora. Mas o conforto de uma peça que abraça seu corpo e seu momento… isso fica.