Não foi a mais cara.
Nem a mais sexy.
Nem a que apareceu nas campanhas de “conquiste-se em 3 passos”.
Foi a calcinha bege clara, de algodão, que já estava quase se aposentando.
Daquelas que ninguém posta. Mas todo mundo usa.
Ela não modelava nada.
Mas também não mentia.
E naquele dia — justo naquele dia em que eu acordei sem querer me ver, sem querer opinar sobre mim, sem querer dar satisfação nem para sombra — ela foi a única peça que me aceitou sem ajuste.
Vesti e esqueci.
E foi aí que me dei conta:
o conforto também é um tipo de beleza.
Mas é uma beleza que não precisa de palco.
Ela vive no bastidor.
Era um dia comum.
Sem iluminação perfeita.
Sem feed, sem filtro, sem pose.
Mas algo mudou.
Eu me senti bem. Não porque alguém disse.
Não porque o espelho confirmou.
Mas porque o corpo, finalmente, não quis sair correndo de mim.
E a peça sabia.
As lingeries, no fundo, sempre sabem.
Elas escutam nossos silêncios.
Testemunham as fases.
Apertam quando a gente se cobra demais.
Largam quando a gente relaxa.
Ficam quietinhas na gaveta esperando você voltar a ser gentil com o próprio corpo.
E aquela foi a primeira vez que eu entendi:
o amor-próprio talvez não comece no reflexo.
Talvez ele comece no toque certo.
Na escolha que ninguém vê.
Na peça que não grita, mas sussurra:
“fica, que hoje tá bom ser você.”